sábado, 30 de março de 2013

“O SEPULCRO ESTÁ VAZIO”


Vivemos em tempos onde o vazio nos inquieta e até mesmo nos incomoda. Somos os seres da era do barulho, dos sons constantes, da negação da solidão, do afastamento do silêncio... o vazio deixa-nos imersos no medo e na insegurança de um mundo onde o prático e pronto mandam. A experiência da morte é disfarçada pela ilusão do prazer desenfreado e o sofrimento é negado pelos ídolos do “ser feliz para sempre”. Neste contexto, encontramos um sepulcro vazio, que parafraseando Sto. Agostinho, seria o tão antigo e o tão novo local de encontro para nós.
            Este sepulcro é caracterizado pelo vazio, por este mesmo vazio que falamos acima, e que até hoje tanto nos incomoda. Contudo, o seu vazio pode ser ressignificado a partir da percepção de sua causa: a Ressurreição do homem Jesus. Ainda, poderíamos nos perguntar se tal vazio é garantia de sua ressurreição? Com certeza, de uma forma empírico-científica, NÃO! Porém, a partir de uma leitura hermenêutica, podemos ver a ressurreição acontecendo nesse local do encontro de vivos e de mortos.
            Essa ressurreição, inevitavelmente, está acontecendo na história e no vazio, quando percebemos o chamado sem preconceitos, a partilha do Pão, a missão renovada e a Paz fortalecedora.
            O chamado sem preconceitos acontece quando olhamos para o outro superando a artificialidade das relações, deixando o som de nossas palavras ressoarem em seus ouvidos com uma intensa e profunda intimidade. O chamado que a mulher na porta do sepulcro vazio ouve é caseiro, é único, é familiar: “Maria!” (Jo 20, 16a). Por isso, é ressurreição, porque deixa próximo do amado (a). Quisera, todos, poderem se sentir perto da vida, perto do outro, perto do “Reino de Deus” e das sonhadas bem-aventuranças do Ressuscitado.
            A partilha do Pão é o maior sonho daquele homem que atuou multiplicando a esperança dos próximos necessitados. O repartimento do alimento e os ensinamentos ao longo do caminho fazem com que a solidão escura do vazio seja completada pelo fogo ardente da presente de vida em nossos corações (Cf. Jo 24, 30-31). Ele está vivo quando o vazio do egoísmo é superado pela alegria da divisão das conquistas e da partilha. Quisera o Ressuscitado estar presente no pedaço de pão-palavra dado a cada discípulo desesperançado de fé.
            A missão renovada se torna ressurreição quando o convite do arremesso das redes é dado aos fatigados e cansados dispensadores da esperança. Quantas e quantos decidem voltar aos trabalhos árduos e pouco produtivos quando podiam fazer do sonho humano de igualdade e fraternidade entre todos uma pesca milagrosa de confiança no amor da vida (cf. Jo 21, 6). Quisera o Ressuscitado poder saborear o gosto festivo do alimento conquistado pela renovação dos missionários e da missão.
            Por fim, o único presente que a Ressurreição pode trazer é a paz. Mas, não se pense que paz é sinônima de anulação das perturbações. Ela é, antes de tudo isso, uma paz fortalecedora – cujo objetivo principal é motivar para a missão e para a inquietação-provocação em busca da grande e maravilhosa instauração do Reino do humano Deus: “A paz esteja convosco!” (Jo 20, 19). Quisera o Ressuscitado também continuar a graça desse desejo-convite de paz motivadora.
            Portanto, o vazio é uma dor no sepulcro quando a morte é seu único fundamento. Porém, quando a ressignificação do Homem do Reino de Deus acontece, o desejo de vida é o maior motivador do ideal da Ressurreição e é somente a atuação e gestos continuados do Ressuscitado que fazem da vida trazida na Cruz a luz para a esperança do céu.


           
JACKSON DE SOUSA BRAGA
No sepulcro vazio, 31 de março de 2013, 00h51min.

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