quarta-feira, 14 de maio de 2014

“Dom Luciano Mendes de Almeida, um santo nos e dos pobres”




“Dom Luciano conseguiu viver a proposta inaciana: “Ver Deus em todas as coisas”
(J. B. Libanio)

A Arquidiocese de Mariana se alegrou, ontem, ao lembrar mais um dia em que Dom Luciano foi participar da eterna felicidade com Deus. Inúmeras pessoas se fizeram presente na celebração eucarística, presidida pelo cardeal Dom Serafim, arcebispo emérito de Belo Horizonte, que ressaltou sua grande amizade e irmandade com Dom Luciano: “Dom Luciano era mais que um amigo, mais que um irmão para mim!” ressaltou o próprio cardeal ao fim da celebração.
Ainda durante a celebração, o pregador Pe. João Batista Libanio – amigo e companheiro Jesuíta de Dom Luciano, desde o noviciado – destacou todo o amor que Dom Luciano tinha pela causa dos pobres e dos mais necessitados. A liturgia lembrava o evangelho de Mt 25, 1-13, no qual Jesus conta a parábola das virgens com as lâmpadas. O pregador enfatizou que “se a comunidade de Mateus tivesse conhecido Dom Luciano, ela teria colocado uma terceira classe de pessoas no evangelho: as que além de estarem prevenidas com o necessário para esperar o Senhor, não cochilariam jamais”. Libanio afirmou que Dom Luciano assumiu, incorporou e vivenciou a passagem de Mt 25, 35-36: “Eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar”. Com entusiasmo e carinho de amigo, o padre Jesuíta encerrou sua homilia salientando que o quarto Arcebispo de Mariana e santo dos pobres, conseguiu viver o princípio inaciano vendo em todas as coisas Deus. Desde o subir em um palco e fazer seus amigos sorrirem, até a ajuda a um pobre que clama por sua atenção, ou ainda na defesa das pessoas que sofrem com um torturador ditatorial.
Ao término da celebração, Dom Geraldo Lyrio Rocha, atual arcebispo de Mariana, anunciou oficialmente que a Arquidiocese – com o apoio de mais de 300 bispos da CNBB – fará tudo que for necessário para a abertura do processo de Beatificação de Dom Luciano. Ao ouvirem essas palavras, todo o povo encheu a Igreja da Sé de Mariana com calorosas palmas, expressando assim todo o desejo e confiança que se tem na santidade de Dom Luciano, agora não vivida só na Terra, mas também no céu, junto de Deus.

Jackson de Sousa Braga
27 de Agosto de 2011

5 anos do Falecimento de Dom Luciano Mendes de Almeida



P.S.: No dia 13 de Maio de 2014, a arquidiocese de Mariana divulgou que o processo de beatificação foi aceito pela Santa Sé. Que N. Sra. de Fátima interceda para que este processo tenho um rápido e bom desenvolvimento e, assim, a santidade de São Luciano dos pobres seja reconhecida por toda a Igreja, como já é uma certeza para todo os brasileiros que o conheceram. cf.: http://www.arqmariana.com.br/autorizado-inicio-do-processo-de-beatificacao-de-dom-luciano/

sexta-feira, 14 de março de 2014

O bispo de Roma do fim do mundo

“O carnaval acabou, não vou usar isso!” (Francisco)

O fim dos tempos e principalmente da vida humana sempre foi um problema ou questão que nos deparamos e procuramos compreender e/ou adiar. Já escutamos tantas vezes profecias do fim do mundo, que ao ouvirmos um novo anúncio de tais datas não nos surpreendemos ou até mesmo fazemos chacota de suas hipóteses, mesmo que nos preocupemos com tais questões. Porém, no dia 13 de março de 2013, ouvimos depois de um caloroso “boa noite” (Buena Sera!) que um senhor havia vindo do “fim do mundo” para ser o bispo de uma das primeiras – senão a primeira – diocese cristã da humanidade.
            Tenho que concordar que o termo “fim do mundo” usado por este senhor, cujo nome passou a ser Francisco, foi num sentido de lugar e não de momento temporal. Contudo, quero aqui refletir também sobre o significado temporal que sua ação episcopal trouxe-nos neste primeiro ano de pastoreio petrino[1].
            Ao saudar ao público presente com o “boa noite”, Francisco mostrou ao mundo que ele era um homem que estava na história humana e que dialogava da mesma forma como todos. Isto é, Francisco é uma lembrança do Jesus que não chegava com solenidades e/ou rituais litúrgicos, mas antes com uma abertura para o diálogo – normalmente, quando nos aproximamos de alguém para o diálogo fazemos uma saudação: “bom dia!”, “como vai?”, “E aí? Tudo bem”. Com estas palavras e todas as outras que vem falando ao longo deste ano, o atual bispo de Roma mostrou-nos o estilo cristão que precisamos ter ao levar o anúncio de Jesus que é o diálogo que se abre para outro e não impõe (de forma até mesmo violenta) discursos: “Queria bater em cada porta, dizer um ‘bom dia’, pedir um copo de água, beber um cafezinho, e não um copo de cachaça” (Francisco na favela de Varginha, RJ).
            Além disso, ser o sucessor de Pedro do fim do mundo é manifestar que o início chegou a partir do fim. Francisco vem do fim do mundo em dois sentidos, conforme lembrei acima: Num primeiro, o temporal, Francisco vem para nos lembrar que estamos em uma mudança de época e que a Igreja precisa perceber e viver esse tempo de fim que é capaz de iniciar: “A Igreja sempre deve ser reformada...” (Homilia dia 09/11/13, na Casa Santa Marta); No segundo sentido, o físico, Francisco vem do continente onde mais se encontra fieis católicos no mundo e também traz a característica de uma Igreja periférica e bem diferente do estilo europeu, conforme nos lembra Leonardo Boff:

Ele não vestiu o figurino clássico do “papa monarca” com o primado jurídico absoluto e com a supremacia doutrinal e pastoral. Ele se entende com bispo de Roma e quer presidir na caridade. É importante observar que esse papa cresceu dentro do caldo cultural e eclesial da Igreja latino-americana, cujo rosto é muito diferente da Igreja da velha cristandade europeia. É uma Igreja viva, com comunidades de base, com pastorais sociais fortes, com figuras de bispos proféticos e com mártires da perseguição das ditaduras militares.[2]

Posso salientar ainda que Francisco é o estar na história humana e assumi-la numa postura mundana, que vive com intensidade as coisas humanas. Francisco tem nos mostrado que ele é um humano como todos os outros, sem escapar dos erros, dos trabalhos, das atividades etc. Lembro-me aqui do bispo de Roma que ousa assumir que já cometeu furtos, que já chegou a utilizar drogas e que, mesmo tendo isto em sua história, consegue ser uma pessoa boa e que anuncia um Reino de Deus, assim como Jesus o fez. O sucessor de Pedro deixa claro que todos, sem exceções na e da sua história, são anunciadores do Reino de Deus. Também é um bispo que acolhe a todos, sem medo de se aproximar de forma totalmente física das multidões e das pessoas. Aproxima-se tanto no contato humano-físico-espiritual dos que estão marginalizados (mulheres, jovens, drogados, pobres, idosos, gays, não-católicos e não cristãos, etc.), quanto das multidões que querem experimentar o contato de afeto e de alegria, assim como fez o Nazareno: “‘Mestre, a multidão te comprime e te esmaga’ Jesus insistiu: ‘alguém me tocou; eu senti uma força que saía de mim’” (Lc 8,45).
            Ainda tenho que salientar também que o novo ocupante da cátedra de Roma é uma revolução na Igreja. Só que ele é um revolucionário que deseja mudar antes de tudo a si mesmo, trazendo, antes de uma reforma na Cúria, uma reforma no Papado[3]. Ele já sabe que deve ter cuidado com a intitulada “lepra do papado” e também que deve ser mais aberto às mudanças que darão oportunidade a todos de participarem da Igreja de forma decisiva e não simplesmente passiva.
            Sendo assim e sabendo que não disse tudo que já se fez e ainda vai ser feito, só nos resta dizer e também praticar o moderníssimo #TAMOJUNTO Francisco, pois temos consciência que o cristianismo precisa de pessoas disponíveis e amantes de Jesus e de seu projeto do Reino de Deus. Portanto, após este bom período da transfiguração do papado e escuta da Palavra, é hora de deixar que nossos ouvidos e olhos vejam e ouçam de Jesus, assim como no monte Tabor: “Levantai-vos e não tenhais medo!” (Mt 17, 6b).

JACKSON DE SOUSA BRAGA
#SENDOJUNTO_NA_FÉ
Viçosa, 15 de março de 2014.




[1] Saliento que não estou aqui querendo compará-lo com algum de seus antecessores ( por mais que João Paulo I tenha características muito parecida) ou torná-lo superior, mas antes desejo mostrar que ele é uma diferença bela e importante que considero histórica e única.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

“Achareis o menino envolto em panos” (Lc 2, 12)



"Devemos ver o brilho do astro e não a escuridão que o rodeia"
(Por que Deus criou as estrelas?)


A data histórica hoje celebrada é um tradição antiquíssima que nos lembra o nascimento do maior ser humano da história, Jesus de Nazaré. Sei que não é hábito que se narre nenhum nascimento num estábulo e com a presença de reis, mas temos inúmeros nascimentos que acontecem ainda hoje em locais precários ou ainda com presenças inesperadas e até mesmo ilustres. Por isso, quero hoje escrever sobre a importância do receber uma nova figura, alguém que possa ressignificar a história e mudar as pessoas. O título que escolhi, deixa claro que quero falar do grande nascimento da história como um nascimento que tem a mesma marca de todos, ou seja, que de tão humano se torna divino – parafraseando a famosa frase boffiana.
            Jesus nasceu da mesma forma que todos nós, sem nenhuma diferença ou privilégio. Creio que Ele deve ter sofrido a dor das lágrimas ao ser expulso da proteção e aconchego do útero, necessitado das limpezas e preparação da parteira, festejado a acolhida e amparo paterno e materno e clamado pelo calor das mantas que nos protegem do frio do mundo. Por isso seu nascimento é um nascimento que se torna simples e como o de todos humano. Não podemos pensar em seu nascimento como um fato extraordinário ou como algo que foge a alçada da capacidade humana de existir e experimentar.
            Talvez, esteja se perguntando: “Por que então celebrar um nascimento comum? Só porque Ele era o Filho de Deus?” Diante desta pergunta, eu poderia inquietar o questionador: “Por que não celebrar um nascimento comum?”
            Este Jesus que nasceu sonhava com isto. Seu objetivo era tornar a vida humana um fato marcante e importante e não uma ocorrência matemática que se soma as outras inúmeras. Jesus ensinou-nos a observar a vida como um presente e uma dádiva. Por isso, seu nascimento se tornou o nascimento dos nascimentos, pois seu significado especial não foi dado por outros, mas por Ele mesmo. É hora de lembrarmos que o milagre da vida é um fato que ultrapassa nossa simples percepção e torna-se o início da maravilhosa história humana.
            Nascer é tornar a vida um caminho que se fará junto aos outros, com a presença da amizade, do amor, das alegrias, mas também com as tristezas, decepções e sofrimentos. Nascer, depois de Jesus, é experimentar a oportunidade de sermos felizes aqui e, mesmo diante do sofrimento, não deixar que a história humana se torne um fardo ou um peso. Nascer é antes de tudo celebrar nossa existência e fazer dela um dos maiores bens que a humanidade tem. Por isso, o Nascer, a partir de Jesus, não é mais um fato que todos passamos, mas antes um Natal que todos podemos viver.
            Para não terminar, mas provocar quero dizer que celebrar o nascimento de Jesus é celebrar o início de uma nova história, onde a vida humana acontece de forma humana e por ser humana é digna de significado e importância. Jesus não se tornou o maior homem da história com seu nascimento, mas antes por sua vida e morte. Sendo assim e seguindo seu exemplo, vamos fazer de nossa história uma estrela cintilante digna para o nosso nascimento?

JACKSON DE SOUSA BRAGA
Pensando na Estrela-Guia
25 de dezembro de 2013

sábado, 23 de novembro de 2013

Jesus de Nazaré, Rei do Universo?



Neste fim de semana se comemora uma festa tradicional, mas não original ao projeto de Jesus de Nazaré: Jesus, Rei do Universo. Sabendo disso, quero aqui refletir um pouco sobre o sentido dado ao termo Rei, quando o mesmo tenta se referir a Jesus na Sagrada Escritura. Além disso, quero salientar que o projeto do Reino de Deus não visa criar um Rei, cuja realeza imponha o serviço e obediência (sendo-lhe lícito condenar), mas antes uma família de amor, cujo Pai/Mãe vive intensamente uma relação de amor e familiaridade, acolhendo e protegendo todos(as) os(as) filhos(as) – sem exceção.
Quanto ao termo Rei, posso atestar que Jesus não se proclama como Rei em nenhum momento na Sagrada Escritura – nem mesmo ao Pai, Ele aplica este termo. Jesus afirma o Reino de Deus, mas não afirma nem a si e nem ao Pai como reis. Provavelmente, esteja remetendo às origens do povo judeu, que é condenado pelos profetas quando escolhe um rei para o si (Samuel contragosto consagra Saul como o Rei de Israel – Cf. I Sam 8). Podemos ainda observar que todas as vezes que Jesus foi chamado de Rei nos Evangelhos foi como uma forma de humilhação. Inclusive, o evangelho desse fim de semana (Lc 23, 35-43) deixa claro que o termo “rei”, quando aplicado a Jesus, é feito em forma de humilhação: “Se tu és o rei dos judeus, salva a ti mesmo! Acima dele havia um letreiro: Este é o Rei dos judeus”. Jesus tem como meta trazer para a humanidade um Reino que tenha o serviço como projeto e não uma soberania absoluta.
Ressalto ainda que o Jesus humano e simples, mesmo diante de toda essa humilhação, foi capaz de acolher o outro na fidelidade e amizade. Encanta-me o texto, porque não há um pedido de perdão, mostrando que a meta de Jesus não é fazer um joguinho mercantil de “salvo, você pede perdão e eu lhe perdoo!” A salvação é dada sem nenhuma cobrança ou esperança de ações corretas. Jesus já garante que todos são amados e salvos por Deus. Este não se sente no direito de condenar eternamente alguém por um ato temporal, mas se dá o direito de amar a todos como seus(suas) amados(as) filhos(as) que são dignos(as) de viver a eternidade das alegrias do banquete do Pai. É interessante observar que o ladrão não nega sua condição de ladrão, mas antes a assume e confia-se a Jesus: “lembra-te de mim!” Percebo aqui o Jesus que acolhe, ama e anuncia a salvação das prostitutas, dos pagãos, dos hereges, dos amasiados, dos homoafetivos etc. (Conforme salientei a santidade destes no texto anterior). E, ao mesmo tempo, Jesus expressa a calúnia que os “profissionais do sagrado” têm o costume de fazer ao proclamar Jesus como um rei manipulador que quer julgar e condenar os que deseja – que seria uma injustiça, contrária ao projeto de ser o Justo Deus.
Finalmente quero dizer que Jesus não é Rei e nunca pretendeu sê-lo, nem de Israel nem do Universo. Seu sonho é um Reino de Amor, que é Deus (Cf. I Jo 4,13). Reinar para Jesus se associa a sofrer, padecer, receber espinhos como coroa, ter títulos que humilham e ser humilhado por “profissionais do sagrado” e seus guerrilheiros. Infelizmente, na história da fé cristã, muitos “santos” fizeram de Jesus seu Rei absolutista, representado por pontífices esfomeados de poder. Estes motivavam guerras tidas como “santas” e até mesmo inquisições assassinas. Por isso, sinto-me motivado a dizer contra essa mentalidade de Jesus como Rei oligarca e junto com Frei Marcos: “O reinado de Cristo é um reino sem rei, onde todos servem e todos são servidos.”
Portanto, tenho a alegria de dizer que o Reino de Deus não é um reino institucional e burocrático, mas um Reino do serviço, do amor familiar e acolhedor dos excluídos: “No Pai-Nosso, dizemos: "Venha o vosso Reino", expressando o desejo de que cada um de nós façamos presente a Deus como a seu Filho Jesus. E todos sabemos perfeitamente como atuou Jesus: a partir do amor, da compreensão, da tolerância, do serviço. Todo o resto é discurso. Nem programas, nem doutrina, nem ritos servem para nada, se não entramos na dinâmica do Reino” (Frei Marcos).


JACKSON DE SOUSA BRAGA
Sem Rei e com o irmão Jesus
 23 de novembro de 2013.


domingo, 3 de novembro de 2013

“Sede Santos como vosso Pai celeste é santo” (Mt 5, 48)...



No Brasil, além do dia 1º de novembro, comemoramos o dia de todos os santos também no domingo que segue a tal data e fiquei pensando nos muitos modelos de santos e pessoas justas que temos – inclusive lembrei do poema de João Paulo II sobre os santos de hoje. Diante dessa lembrança, tenho a alegria de refletir um pouco hoje sobre os nossos santos de hoje, dado que a festa de todos os santos lembra-nos praticamente das pessoas que viveram intensamente o existir nessa história e agora vivem a ressurgir na eternidade de nossas memória (lembrando-me da bela reflexão de meu amigo Juliano). Nestas breves palavras, quero falar de muitos e tantos santos que hoje não têm a dignidade dos altares, mas que fazem de suas vidas uma santidade que quiçá seja maior do que a dos que estão nos altares sendo venerados.
            Quero lembrar-me aqui de alguns santos que não entram em padrões da santidade que a sociedade e as instituições religiosas têm, mas dos tantos humanos de nosso dia-a-dia, amantes radicais do ser humano e viventes intensos do amor ao outro que de tanta intensidade seria ingratidão de nossa parte negar-lhes a graça de estar contemplando o Sendo Àquele que Sendo (Ex 3,14).
            Um dos grupos de santos que muitos conhecemos são as pessoas que se encontram e trabalham em casas de prostituição. As religiões infelizmente santificam de forma exagerada a virgindade e o celibato como algo que nos aproxima de Deus e por isso as prostitutas (os) não entram nos altares para serem lembradas e veneradas. Contudo, se observarmos, perceberemos que essas pessoas sofrem as dificuldades da existência, amam os próximos excluídos e marginalizados (inclusive vivem e estão com eles), ouvem e ajudam às pessoas que lhes procuram e sacrificam seus corpos intensamente, completando em sua carne o que falta ao sacrifício de Cristo pelo seu corpo (Col 1, 24). Lembro-me aqui de tantas dessas pessoas que se aproximam de Deus e são acusadas pelos olhares condenadores dos muitos profissionais do sagrado que primam pela percepção do pecado e não pelo amar intenso de Jesus . Por isso, quero dizer, com a confiança de um devoto: “SANTAS(OS) PROSTITUTAS(OS), ROGUEM POR NÓS!”
            Outro grupo que é exageradamente excluído da dignidade dos altares é o grupo dos homoafetivos. O papa Francisco foi muito feliz em suas palavras quando questionou: “Se uma pessoa gay quer procurar Deus, quem sou eu para negar-lhe?” Sabemos, porém, que a dignidade dos altares é negada a essas pessoas que amam aos iguais como iguais, que sentem-se diferentes junto com os diferentes... Seria um pecado não citar o grande amor que esses dignos filhos(as) de Deus têm pelos seus irmãos, irmãs: já os vi a cuidar dos projetos da fé, dos templos e a doarem seus dons em prol da causa de que são excluídos e muitas vezes marginalizados, pelos mesmos muitos profissionais do sagrado que manipulam o poder das instituições religiosas (muitas vezes, nem lhes permitem a recepção do corpo e sangue de Cristo). Além disso, não deixo de lembrar aqui dos muitos projetos que tentam tratar-lhes como doentes ou dotados de “desvio conduta”. Mas, diante dessas palavras, só posso me lembrar das palavras de Cristo: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultais, porque será grande a vossa recompensa nos céus." (Mt 5, 11-12)... Sendo assim, só posso dizer: “SANTOS(AS) HOMOAFETIVOS(AS), ROGUEM POR NÓS!”
            Um terceiro grupo de pessoas que são excluídas da dignidade dos altares são os tidos como Hereges, excomungados, contra-doutrina etc. Infelizmente, as instituições religiosas são, na grande maioria dos casos, excessivamente doutrinárias e pouco dialógicas. São como soldados ferozes da defesa, que não se abrem para ouvir e ser ouvidos, mas antes são defensores de suas crenças. E todos que escapam delas, são tidos como ex-comungados ou são silenciados (lembro-me aqui de Bruno, Lutero, João Calvino, Galileu...). A santidade dessas pessoas é destaca quando somente se aponta os suas posições contra-doutrinárias e não as ótimas ideias e até mesmo reflexões além-de-seus-tempos que elas doaram a humanidade de suas épocas... lembro-me aqui do momento mais importante para perceber o Jesus ruptor que com toda certeza foi o maior artista de ruptura de todos os tempos: “Ouviram o que foi dito... Eu, porém vos digo...” (Mt 5, 27-28) Por isso, digo com fé: “SANTOS(AS) ALÉM-DOUTRINA, ROGUEM POR NÓS!”
            Um quarto grupo de santos que creio que está nos céus é o das pessoas em segundo casamento (amasiadas). A estas pessoas são negados inúmeros sacramentos, ou melhor falando, só lhes permitem receber o sacramento da penitência – são consideradas somente como pecadoras e é-lhes negada a graça da comunhão do corpo e sangue de Cristo e dos demais sacramentos da Igreja. Podemos perceber que o sonho dessas pessoas é a felicidade de seus irmãos (ãs) no amor e não a fuga da experiência de compromisso para com os outros. Infelizmente, a manipulação do compromisso matrimonial pelas instituições religiosas fez com as estas tornassem o matrimônio como outra instituição que é regida por leis excessivamente rígidas, as quais são pouco preocupadas com os casos particulares. Pelo sacrifício que estas pessoas fazem, mesmo sem culpa e pecado algum, posso dizer: SANTOS(AS) AMASIADOS(AS), ROGUEM POR NÓS!
            Inevitavelmente, esses não são os únicos santos fora dos altares e que, provavelmente, não terão lugares nos tronos dos templos religiosos, mas falei desses grupos, pois nunca vi sua lembrança nos dias dos santos. Sei que nem todos são santos – tanto no grupo dos santos reconhecidos (“santos inquisidores”, “santos reis de guerra”, santos membros de instituições que criaram leis para oprimir os outros, etc.), bem como no grupo dos santos além-institucionais ( existem os que são da prostituição e exploram as pessoas em casas de prostituição; homoafetivos que são extremamente preconceituosos contra os seus; além-doutrinários que se revoltaram e começaram a praticar o mal; e amasiados que se dão o direito de brincar com o sentimento dos outros, etc.). Porém, posso encerrar essas palavras, afirmando que em sua grande maioria todos os seres humanos, que são excluídos, têm a grande graça de ter melhorado o mundo e feito o bem com suas pequenas-gigantes ações... por isso, “ALÉM-DOS-SIMPLESMENTE-SANTOS, ROGUEM A DEUS POR NÓS!”


JACKSON DE SOUSA BRAGA

Com os santos de minha vida, 03 de novembro de 2013.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Ó, Mãezinha da Boa Viagem!


Saúdo-a, ó Mãe da Boa Viagem, com a alegria de um filho que lembra de seu colo maternal e acolhedor. Não quero nessas palavras tornar-me mais um a dizer-lhe versos, a cantar-lhe cantigas e a celebrar sacrifícios. Quero antes, ser como seu Filho: a dizer e encontrar a liberdade de fé, a cantar a melodia do amor e da vida e a celebrar a alegria da relação com os outros e nos outros. Sou grato pelas vezes em que me carregou em seu colo materno, pelas vezes em que me alertou dos perigos, pela companhia na solidão e, principalmente, pelas viagens desse estrangeiro que sou.
Sim, minha mãezinha, sou um estrangeiro! Um estrangeiro neste meu eu, que é a cada dia revelado e encoberto pelo véu do novo... Sou um estrangeiro a caminhar na vida de tantos e dar-me o direito de entrar nos territórios sagrados de suas histórias... Sou um estrangeiro a dizer o desconhecido e a proclamar o silêncio... Sou um estrangeiro, sem história, só e caminhante: Para onde? Não sei, sou simplesmente... antes de tudo, um estrangeiro na verdade, de cujos monopolizadores faço-me opositor...
Mãe, sou um filho-estrangeiro que... como adulto precisa de suas mãos para me ajudar nos tombos dos primeiros passos. Porém, como criança, peço-lhe o direito de partir de cajado nas mãos e livros na bolsa... Como esposo, peço-lhe que ensine-me a fazer de meu encontro com minha amada uma imagem de Deus, assim como fazia com José no coito nupcial no dia da concepção de Jesus. Porém, como solteiro, ensina-me a respeitar meu corpo e a festejar suas alegrias... Como um ignorante, dai-me a graça de orientar e celebrar com e o rebanho de seu Filho rumo ao encontro da Verdade. Porém, como sacerdote, ensina-me a igualdade e a sê-lo: “Com exemplos e não simplesmente com documentos”.
Querida mãezinha da Boa Viagem, olha por nós, seus filhos! Escuta nosso agradecimento, mesmo nas incertezas do amor... ama-nos, mesmo quando a decepcionamos... Ensina-nos mesmo diante de nosso orgulho de ignorantes... ouve-nos, mesmo diante de nosso silêncio soberbo... carrega-nos mesmo que nos sintamos grandes o bastante para rejeitarmos o colo... OBRIGADO, ACIMA DE TUDO!

“Mãe e Mulher de Nazaré, fizeste viagem com fé,
Unida a teu esposo José, vai nos guiando pela maré.
A procura de ouro trouxeste a Del-Rey nestas terras sagradas,
Boa Viagem rogai, por nós, a Trindade amada...”



Jackson de Sousa Braga
Em Itabirito de coração, 15 de agosto de 2013
Dia de Nossa Senhora da Boa Viagem

sábado, 30 de março de 2013

“O SEPULCRO ESTÁ VAZIO”


Vivemos em tempos onde o vazio nos inquieta e até mesmo nos incomoda. Somos os seres da era do barulho, dos sons constantes, da negação da solidão, do afastamento do silêncio... o vazio deixa-nos imersos no medo e na insegurança de um mundo onde o prático e pronto mandam. A experiência da morte é disfarçada pela ilusão do prazer desenfreado e o sofrimento é negado pelos ídolos do “ser feliz para sempre”. Neste contexto, encontramos um sepulcro vazio, que parafraseando Sto. Agostinho, seria o tão antigo e o tão novo local de encontro para nós.
            Este sepulcro é caracterizado pelo vazio, por este mesmo vazio que falamos acima, e que até hoje tanto nos incomoda. Contudo, o seu vazio pode ser ressignificado a partir da percepção de sua causa: a Ressurreição do homem Jesus. Ainda, poderíamos nos perguntar se tal vazio é garantia de sua ressurreição? Com certeza, de uma forma empírico-científica, NÃO! Porém, a partir de uma leitura hermenêutica, podemos ver a ressurreição acontecendo nesse local do encontro de vivos e de mortos.
            Essa ressurreição, inevitavelmente, está acontecendo na história e no vazio, quando percebemos o chamado sem preconceitos, a partilha do Pão, a missão renovada e a Paz fortalecedora.
            O chamado sem preconceitos acontece quando olhamos para o outro superando a artificialidade das relações, deixando o som de nossas palavras ressoarem em seus ouvidos com uma intensa e profunda intimidade. O chamado que a mulher na porta do sepulcro vazio ouve é caseiro, é único, é familiar: “Maria!” (Jo 20, 16a). Por isso, é ressurreição, porque deixa próximo do amado (a). Quisera, todos, poderem se sentir perto da vida, perto do outro, perto do “Reino de Deus” e das sonhadas bem-aventuranças do Ressuscitado.
            A partilha do Pão é o maior sonho daquele homem que atuou multiplicando a esperança dos próximos necessitados. O repartimento do alimento e os ensinamentos ao longo do caminho fazem com que a solidão escura do vazio seja completada pelo fogo ardente da presente de vida em nossos corações (Cf. Jo 24, 30-31). Ele está vivo quando o vazio do egoísmo é superado pela alegria da divisão das conquistas e da partilha. Quisera o Ressuscitado estar presente no pedaço de pão-palavra dado a cada discípulo desesperançado de fé.
            A missão renovada se torna ressurreição quando o convite do arremesso das redes é dado aos fatigados e cansados dispensadores da esperança. Quantas e quantos decidem voltar aos trabalhos árduos e pouco produtivos quando podiam fazer do sonho humano de igualdade e fraternidade entre todos uma pesca milagrosa de confiança no amor da vida (cf. Jo 21, 6). Quisera o Ressuscitado poder saborear o gosto festivo do alimento conquistado pela renovação dos missionários e da missão.
            Por fim, o único presente que a Ressurreição pode trazer é a paz. Mas, não se pense que paz é sinônima de anulação das perturbações. Ela é, antes de tudo isso, uma paz fortalecedora – cujo objetivo principal é motivar para a missão e para a inquietação-provocação em busca da grande e maravilhosa instauração do Reino do humano Deus: “A paz esteja convosco!” (Jo 20, 19). Quisera o Ressuscitado também continuar a graça desse desejo-convite de paz motivadora.
            Portanto, o vazio é uma dor no sepulcro quando a morte é seu único fundamento. Porém, quando a ressignificação do Homem do Reino de Deus acontece, o desejo de vida é o maior motivador do ideal da Ressurreição e é somente a atuação e gestos continuados do Ressuscitado que fazem da vida trazida na Cruz a luz para a esperança do céu.


           
JACKSON DE SOUSA BRAGA
No sepulcro vazio, 31 de março de 2013, 00h51min.